A Espera

E lá estava eu, já tinha feito a minha parte, correndo atrás de toda a documentação e esperando a emissão do visto.

É um processo que eles não fazem na hora, então seria uma espera que poderia demorar 8 semanas.
Além desse prazo ser bem grandinho, já tinha demorado pra caramba para eu conseguir uns documentos anteriores, e a data que tinha combinado de começar a trabalhar estava cada vez mais próxima, fazendo eu ficar mais ansioso ainda.

Passado um tempo comecei a ligar no consulado com uma certa frequencia para saber como estava, afinal, era praticamente a única coisa que faltava para eu ir.
Era a única coisa que me impedia de saber quando eu iria.

De início os atendentes do consulado foram bem prestativos, falando onde estava o processo e tal.
Depois mudou a pessoa e aí começaram a não querer dar informação nenhuma, tornando a ansiedade ainda mais difícil ainda de contornar.

Até que um certo dia, liguei lá e viram que o passaporte/visto já tinha sido mandado.
Vendo o código de rastreamento vi que já tinham tentado entregar no dia anterior mas não tinham encontrado ninguém em casa.
E bora controlar a ansiedade e se enfurnar em casa com um ouvido no portão para garantir que o sedex encontrasse alguém quando chegasse.

Tinha acabado de ir no banheiro e de repente começam a bater palma na frente de casa.
Bora correr lá!
Era o carteiro.
Normalmente o sedex entrega no carro então nem fiquei tão animado, mas bora ir lá receber né.

E qual não foi a minha surpresa quando um dos envelopes era lá do consulado!!!!
E finalmente a espera acabou!
Hora de arrumar as coisas para ir!

A papelada

Conseguida a vaga, novo desafio a enfrentar: correr atrás da papelada.

A AIESEC ajudou pra caramba nesse processo, mas mesmo assim foi bem complicadinho.

As coisas não ajudavam: era fim/começo do ano (ou seja, vários serviços estavam pela metade por causa das férias) e tive que ir atrás de documentos que foram mais complicados de obter do que seriam normalmente (por exemplo, eu já tinha terminado a faculdade e precisava de atestado de matrícula).

E aí é vai atrás de documento, o orgão não emite normalmente, tem que falar com deus e o mundo para conseguir, não conseguem fazer por que não está no script deles, consegue outros documentos, manda pra Alemanha, tem que traduzir, vai atrás de tradução oficial, manda de novo, documento está errado, faz tudo de novo e tenho o... Work Permit (Permissão de trabalho).
Sim, não era o visto ainda.

E lá vai atrás do resto da papelada pro visto.
Traumatizado com o processo para o tirar o visto pros EUA alguns anos atrás, se arma com um monte de comprovantes a mais para mostrar que não estava indo para virar apenas para roubar emprego e dar trabalho.

Feito todo o processo no consulado, hora de esperar a análise deles, mas você vai ter que esperar até amanhã para saber como foi essa espera. ;)

Expectativas

Vir para o intercâmbio foi um imenso salto no escuro pra mim. 

É a primeira vez que venho pra Europa. 

Não sabia como é viver em um país que você não sabe a lingua nativa. 

Não sabia como seria a empresa. 

Não sabia como é viver com essas temperaturas. 

Não sabia como é viver longe de tanta gente que eu amo.

Mas mesmo não sabendo, assim como o cara aí em cima, a gente vai tentando imaginar como é, vai criando expectativas.

E aí vem várias surpresas, tanto negativas quanto positivas.

Estou me adaptando melhor do que eu esperava à vida aqui.
Da para viver sem saber a língua nativa, mas certas coisas você acaba perdendo ou tendo mais dificuldade para conseguir.
A empresa é muito mais legal do que eu esperava e estou conseguindo pegar bem as tarefas.
O frio tem hora que dá uma castigada, mas como as construções são bem fechadas e quando a gente sai vai com jaquetas pesadas, dá para viver bem.
A saudade está começando a apertar mais do que eu imaginava que iria...

Mais do que as "tirinhas" que apareceram aos montes um tempo atrás, isso me lembrou uma certa equação que também não é a que está na imagem acima:

Satisfação = Qualidade - Expecativa

Se a gente espera demais e algo não é tão bom assim, a gente fica frustrado. Se a gente não espera tanto e a coisa é razoável, a gente fica contente.
Isso é uma coisa que estou sentindo bem aqui, e aprendendo a não esperar demais para conseguir curtir bem as coisas e a não sofrer por antecipação pois isso seria masoquismo. ;)

A entrevista

Depois de pesquisar mais sobre a vaga, vendo melhor o local, a descrição do trabalho e coisas do tipo, vi que era muito legal e começou a bater ainda mais a sensação de: "será que eu fiz a coisa certa de ter falado para deixar a entrevista pra depois"?

Depois de muito lutar com a ansiedade, eis que enfim chegou o dia da entrevista, que era em inglês.
Primeiro começaram perguntar normais de entrevista para conhecer o perfil, e que eu fui me virando bem mesmo não lembrando uma palavra ou outra e conseguindo contornar isso.
Depois disso começou a parte técnica.

Comecei a engasgar para explicar alguns passos de algorítmos e termos que ele pediu, mas o problema mesmo foi quando eu não liguei o nome ao algorítmo.

Depois de falar algumas besteiras por causa disso, o entrevistador (que é o dono da empresa), muito compreensivo, perguntou como seria o algorítmo que eu programaria para resolver um determinado problema.
E a resposta do problema era o algorítimo que ele tinha pedido na pergunta anterior. E bingo!
Agora eu sei o que você está pedindo. XD

Mais algumas perguntas, que fui bem, e terminando a entrevista ele disse que viu que eu sabia os tópicos que ele precisava, e que o único ponto que deixei um pouco a desejar era o inglês, mas que isso não seria problema.
Porém, para ter certeza, ele iria pedir para o outro intercambista, que é do Brasil também conversar comigo duas horas depois.

Enfrentada a ansiedade durante esse período, veio a conversa com o brasileiro, que foi bem tranquila, e depois a espera pela resposta se iriam me contratar ou não, que seria dada nos próximos dias.

Nesse meio tempo outra empresa entrou em contato, da Russia, de um lugar que estava fazendo 30 graus Celsius negativos!

Só de imaginar já dá frio

Tendo isso em mente fiquei torcendo ainda mais para que o de Aachen desse certo. XD

Alguns dias depois recebo um e-mail da empresa falando que eles gostaram de mim e que gostariam que eu me juntasse ao time!!!!

Era dia 17 de dezembro e chequei várias vezes para ter certeza que estava certo. XD

Tudo lindo, tudo maravilhoso mas... ixi!
Tenho que tirar o visto e o Brasil não funciona essa época do ano...

Tempo

Estava pensando aqui, e é muito chato não contar o que está acontecendo esses dias aqui, só coisas de muito tempo atrás.
Como iria demorar um tempo para terminar tudo que eu tenho para contar até o dia de hoje(e para aproveitar as coisas que estão frescas na cabeça), então vou alternar.

Um dia um post sobre como foi lá no começo e no outro post de como está sendo agora.
Espero que fique mais interessante.

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Um ano. 12 meses. 365 dias. 8760 horas. 525.600 segundos.
As vezes pode parecer muito. Outras pouco.
Em alguns dias vai fazer um mês que eu estou aqui.

E aí fico pensando em tudo que aconteceu nesse tempo e tudo que eu queria ter feito.

Nesse mês vim pela primeira vez para a Europa.
Aprendi a conviver com frio de 0 graus celsius.
Aprendi a esquiar.
Conheci uma empresa muito diferente de tudo que eu tinha conhecido até agora.
Estive em 4 paises da Europa.
Comecei a morar sozinho, sem carro, em um continente desconhecido e em uma país em que a lingua native eu (ainda) não sei falar.
Mudei de apartamento e estou tendo que procurar outro já.
Minha irmã começou um namoro. Um amigo terminou. Uns amigos meus viraram tios. Uns adotaram posturas bem corajosas.

Mas queria mais.
Queria ter conhecido muito mais.
Queria ter feito mais.
Queria ter feito mais amizades e mais próximas.
Queria que muito mais coisas tivessem dado certo no Brasil.

Mas isso é um defeito meu que eu tenho que aprender a superar.
Sempre acho que não é o suficiente e que deveria ter ido melhor. "O bom é inimigo do ótimo".

Se a gente está dando o nosso melhor pra que ficar se cobrando mais?
Isso é ser cruel demais consigo mesmo e perda de tempo e energia.

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Ah, aprendi também que conversas com pessoas que você ama e uma caminhada, principalmente em um parque, fazem muito bem ao espirito.

E nesse fim de semana a Dance Party completa 2 anos e a N-Party 6 anos, dois "filhos" meus que me deram muitas alegrias, amigos, aprendizados e tenho muito orgulho de ter criado.
Como o tempo passa rápido né?

PS: por 9 minutos quase entrou no ar o post errado que eu tinha programado.
Tempo as vezes faz a gente perder o fôlego (e rir depois). XD

O primeiro contato

Era o meio de uma tarde.
Não lembro direito a hora e nem o que eu estava fazendo.
Sem aviso nenhum meus skype começou a tocar com um contato desconhecido.

Por um momento pensei: "ah, não sei quem é, deve ser alguma coisa enchendo o saco, melhor fazer de conta que não estou perto do computador", mas ainda bem que rapidamente foi substituído pelo pensamento: "p*** merda, pode ser algo do intercâmbio, cade a p**** do headset?".

Rapidamente conectei, atendi e falei: "alo?!"
E veio uma voz falando em inglês.
Enquanto eu me acalmava para conseguir entender o que era(e lembrar das palavras em inglês que eu tinha que falar) ele falou que era uma empresa procurando intercambista pela Aiesec, que tinha recebido e gostado da minha aplicação.
Também disse que queria fazer uma entrevista e perguntou se eu estava livre na hora.

Sabiamente eu percebi que não estava moralmente preparado naquela hora e falei que não dava naquele momento.

Depois de trocar alguns e-mails marcando o horário (e aprendendo melhor sobre o fuso horário) marcamos uma data para mais de uma semana depois.

Nesse meio eu comecei a pensar:
Será que eu fiz merda de ter deixado pra depois?

Próximas cenas no próximo capítulo. ;)

(Sei que você já sabe o que vai acontecer, mas parafraseando Lisbela: "o que importa não é saber o que acontece, é ver como acontece")

(Não achei a parte certa mas essa parte também é muito legal. 

Aliás, é um filme inteiro muito bom. Vale muito a pena ver)

A busca

Já tinha decidido que iria fazer o intercâmbio e tal, mas e agora?
Minha irmã já tinha participado da AIESEC por muito tempo e inclusive já tinha ido para um intercâmbio para a Colômbia por essa organização, então o melhor caminho seria ir por lá (mesmo por que já tinha pago algumas coisas).

Mas o que é a AIESEC?
A AIESEC é um grupo de jovens presente em mais de 100 paises.

Entre várias atividades que eles organizam a principal é ir em busca de empresas no próprio país dispostos a contratar intercambistas, e dar todo o apoio para que isso funcione bem.

Por causa disso eles tem um banco de dados gigante, de tudo quanto é país.
Só que o número de pessoas interessadas é maior que o número de vagas, então as vezes fica difícil conseguir fechar uma vaga, e aí ficava aquela dúvida: será que eu consigo?

E aí, no meio do processo, veio uma parte complicadinha: procurar vagas e se aplicar nelas.

É um processo mais trabalhoso do que parece, tendo que fazer coisas como:
- Entender os requisitos das vagas (tudo em inglês),
- Ver se você se encaixa nele,
- Ver se seria algo legal pra você (coisa que eu demorei para decidir o que queria, e que depois de decidido facilitou bastante a busca),
- Mandar algumas coisas, incluindo o seu currículo (em inglês) e uma carta de apresentação (que também deve dizer por que você gostaria de entrar naquela vaga, então nada de mandar o mesmo arquivo pra todo mundo) .

Depois de procurar bastante e me aplicar em várias e várias vagas, recebendo vários nãos, eis que um dia, sem aviso nenhum, recebi uma ligação pelo skype de alguém que eu não conhecia!
Mas isso fica pro próximo post. ;)